Carta
Bons colegas, não há como
admitir tal postura. Alimentar
preconceitos já embutidos na sociedade não acrescenta e não modificam as
condições precárias a qual o ensino superior, e não só o particular, se
encontra.
Historicamente, o ensino superior
foi como o próprio nome já diz exclusivo aos aristocratas aos burgueses,
privilégio de poucos. Chegou há ser prática proibida no país, para que a
população não tivesse acesso a novas idéias iluministas e não pudesse adquirir
senso crítico. Com o passar do tempo, e com a promulgação de constituintes foi
dado a este caráter público, como já ocorria no restante do mundo, e que no
Brasil só ocorreu após séculos.
Somos colonizados, a nós foi
dado o acesso conforme convinha os imperialistas, ditadores, entre tantas
formas de governo... neste intere, poucos foram os selecionados e conquistamos,
para todos, pouco a pouco o direito básico: A EDUCAÇÃO.
Porém, não foi tarefa fácil,
ao perceber que até a classe mais baixa estava tendo acesso a cursos exclusivos
da elite, foi limitado o número de vagas para o acesso ao ensino e criado
outros critérios como exames, provas, certificados. E assim, a classe mais
baixa, que não possuía uma boa formação básica, foi sendo marginalizada para os
cursos menos elitizados.
Foram criadas universidades
públicas, com processos seletivos próprios, embora a rigidez e o acesso
continuassem a serem o mais acirrado possível, para dar espaço àqueles que
vinham de berço e freqüentavam ensino básico e médio de qualidade.
Bom, hoje podemos fazer um
paralelo com os fatos históricos ocorridos há séculos atrás. A classe baixa
hoje, por meios de programas de inclusão, financiamentos, entre outros, tem a
disposição de freqüentar cursos de grande interesse da elite. Faze-se Direito,
Engenharia, Farmácia, Medicina Veterinária, Arquitetura, entre outros, na mesma
sala, com os mesmos acessos, esteja este no ensino público [por meio de cotas],
ou no ensino particular.
Dessa forma indaga-se: para
que e a quem interessa continuar a alimentar as diferenças existentes na forma
como o ensino é dado?
Qual a motivação de
desvalorizar o ensino superior particular?
As respostas podem ser
ilimitadas. Diante da situação vivenciada verifica-se que o mesmo incômodo
gerado no passado, permanece hoje. Incomoda ver TODOS tendo acesso a educação.
Incomoda de alguma maneira saber que o filhinho de papai tem acesso, a moradora
da periferia tem acesso, o filho de seu empregado tem acesso. Enfim, incomoda o
fato de o ensino passar a ter natureza de necessidade do pobre ao rico.
Incomoda saber que em algum momento aquele SER irá galgar os mesmos objetivos
que um dia estava disponível para alguns.
De fato professora, talvez
estejamos no ensino particular porque à nós não foi possibilitado a
oportunidade de usufruir do ensino público. Culpa nossa? Talvez. Existem
inúmeros motivos que nos fazem escolher o ensino particular. À distância da
universidade pública, à espera pelo vestibular realizado apenas 1 vez ao ano,
visto que não somos tão jovens, a possibilidade de pagar o ensino de acesso
mais fácil. Enfim, variados os motivos pelos quais NÓS, eu, você e os demais
colegas, escolheram o ensino particular.
Dizemos nós, porque é de
conhecimento geral que a sua formação também é oriunda do mesmo berço, o ensino
superior particular. E este fato nos
causa estranheza sobre a sua exclamação.
Seguiremos nosso curso, de
forma democrática, valorizado ou não, para um dia adquirirmos o sonhado diploma
de ensino superior. E quem sabe uns dias nos tornem como à senhora e outros já
são: PROFESSORES, MESTRES, ADVOGADOS, JUÍZES, SERVIDORES PÚBLICOS, ENTRE
OUTROS.
Bacharelanda em Direito – 9º
semestre UNIME.
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