"Substituição
e erradicação manual de cultivos ilícitos; desminagem e limpeza de campos
minados durante o conflito armado; estabelecimento de uma nova política para
combater a lavagem de dinheiro e a corrupção estatal vinculada ao tráfico; e o
compromisso das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) de se
desvincularem totalmente do narcotráfico após firmado um acordo final de
paz". Esses foram os principais pontos do acordo parcial sobre drogas
ilícitas, apresentado, no fim da tarde de hoje (16), pela mesa de diálogos
entre as Farc e o governo colombiano, em Havana, Cuba.
"O
objetivo é liberar a Colômbia dos cultivos ilícitos, da semeadura de coca e da produção
de cocaína", apontou o negociador-chefe do governo, Humberto de la Calle,
em entrevista coletiva, logo após a leitura do texto com os principais pontos
do acordo. Integrantes da mesa negociadora disseram que houve consenso sobre
três dos cinco pontos do tema.
Agora,
será estabelecido um programa de cultivos ilícitos, com planos integrais de
desenvolvimento e participação das comunidades, inclusive na recuperação das
áreas ambientais afetadas por esses cultivos. Também serão criados programas de
saúde pública de prevenção ao consumo e haverá um compromisso para encontrar
soluções para o fenômeno de produção e comercialização de drogas.
O
documento admite que a persistência dos cultivos ilícitos na Colômbia está
relacionada à existência de condições de pobreza, marginalidade e debilidade
institucional, aliada à existência de grupos criminosos dedicados ao
narcotráfico. No comunicado, governo e Farc reconhecem ainda que a produção e a
comercialização de drogas “permearam, alimentaram e financiaram o conflito
interno”.
A
política de substituição de cultivos ilícitos utilizará a erradicação manual de
plantas de coca, maconha e papoula, uma prática que já é adotada no combate ao
narcotráfico. Entretanto, até então a erradicação era forçada, realizada
sem
consentimento
e sem "negociação" com os camponeses. Com a proposta, a erradicação
será mantida, mas mediante a substituição de cultivos e a participação dos
camponeses para evitar o "replantio".
"A
erradicação forçada fracassou e deixou um desastroso saldo ambiental. Suas
vítimas deverão ser reparadas e a erradicação deverá ser consensual e baseada
em alternativas efetivas aos camponeses", afirmou o negociador-chefe das
Farc, Iván Márquez.
O
acordo parcial foi explícito ao mencionar que “a política deve manter o
reconhecimento de usos ancestrais e tradicionais da folha de coca, como parte
da identidade cultura da comunidade indígena e da possibilidade de utilização
de cultivo para fins médicos e científicos, bem como outros usos que venham a
ser estabelecidos.”
Com
relação ao consumo de drogas ilícitas no país, o documento afirma que os
programas que serão criados deverão ter um enfoque em direitos humanos e saúde
pública, fundamentado na participação das comunidades. Será criado um Sistema
Nacional de Atenção ao Consumidor de Drogas Ilícitas que incluirá ações
complementares de reabilitação e reinserção social.
A
mesa decidiu ainda que, uma vez concluído o processo de paz, as Farc e o
governo estarão compromissados a intensificar a luta contra o crime organizado
e suas redes de apoio, porém sempre protegendo as comunidades vinculadas ao
Programa Nacional Integral de Substituição de Cultivos de Uso Ilícito.
Uma
nova estrutura de investigação será criada para combater a lavagem de dinheiro
e a corrupção relacionada ao narcotráfico. “Isso deverá fortalecer a
efetividade institucional e combater a corrupção dentro do próprio Estado, caso
seja comprovada vinculação do Ente estatal com narcotráfico”.
A
“nova estratégia” inclui mapeamento dos mecanismos de lavagem de dinheiro e
identificação da cadeia no narcotráfico. No final do acordo, o governo do país
se comprometeu a iniciar os programas de substituição de cultivos e combate à
corrupção e ao envolvimento estatal no narcotráfico.
As
Farc, por sua vez, se comprometeram a contribuir de maneira “efetiva” e com
maior determinação, mediante ações práticas para a solução
definitiva do conflito.
O
anúncio do acordo parcial sobre drogas era esperado, desde o começo dessa
rodada de negociações, iniciada na segunda-feira (12), quando as Farc se pronunciaram dizendo
que só faltavam dois pontos para um acordo parcial sobre as drogas. Mas a
imprensa colombiana foi surpreendida, porque a expectativa era de que um acordo
fosse anunciado na semana que vem.
O
acordo parcial foi celebrado a menos de nove dias das eleições presidenciais,
em um momento em que o presidente Juan Manuel Santos, candidato à reeleição,
apresenta queda nas pesquisas de intenção de voto, e após graves acusações de
que assessores de sua campanha presidencial de 2010 teriam recebido dinheiro de
narcotraficantes.
A
denúncia foi apresentada pelo ex-presidente Álvaro Uribe, eleito senador em
março. No ano passado, Uribe criou o Centro Democrático, partido de direita, e
lançou a candidatura de Oscar Zuluaga, que na reta final da campanha apresenta
empate técnico com Santos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário